Tarefa
coletiva
No cenário da economia verde, gerir
resíduos deixa de ser um problema restrito ao poder
municipal e entra para a agenda das empresas como item essencial
à sustentabilidade dos negócios. Dois anos após
a promulgação da Lei 12.305, em agosto de 2010,
que obriga a logística reversa e o fim dos lixões
até 2014, setores da indústria e varejo, cooperativas
de catadores e prefeituras se movimentam para mudar a realidade
do lixo urbano no país. "Neste momento, é
importante sermos pragmáticos para achar modelos viáveis
de gestão, avaliar tecnologias e definir como fechar
as contas", afirmou na sexta-feira a ministra do Meio
Ambiente, Izabella Teixeira, durante o seminário "Política
Nacional de Resíduos Sólidos: A Lei na Prática",
no Jardim Botânico, Rio de Janeiro.
A ministra Izabella Teixeira:
pesquisa realizada pelo Ministério do Meio Ambiente
indica que a nova classe média já incorpora
as informações sobre reciclagem, apesar
de hoje 52% da população ainda não
separar o lixo nas residências |
Realizado pelo Valor em parceria com a
Ambev e o Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre),
o evento debateu as mudanças na gestão, tendências
de mercado e os desafios para que o novo marco legal saia
do papel e efetivamente gere ganhos econômicos, sociais
e ambientais. De acordo com a ministra, "o foco do governo
não é controlar para se fazer do jeito que ele
quer, mas promover a busca de novos caminhos e soluções".
A reciclagem de resíduos, segundo ela, "não
é trivial". "É cômodo falar
no tema e permanecermos reciclando apenas 1% dos resíduos,
como em São Paulo e no Rio de Janeiro", lamentou
a ministra.
Entre os principais desafios, na análise
de Izabella Teixeira, está "definir um modelo
de logística que considere as diferenças regionais
do país e as leis do mercado". Ela reconhece a
existência de "nós que precisarão
ser desatados" para fazer funcionar a coleta seletiva
nas cidades e o aproveitamento industrial dos materiais recicláveis
em maior escala.
A discussão de tarifas e incentivos,
expansão de cooperativas e tecnologias, como a possibilidade
da incineração de resíduos para gerar
energia, são alguns pontos. A reciclagem total, para
a ministra, é "uma utopia", mas há
motivos para otimismo: recente pesquisa realizada pelo Ministério
do Meio Ambiente indica que a nova classe média brasileira
já incorpora as informações sobre reciclagem,
apesar de hoje 52% da população ainda não
separar o lixo nas residências. De acordo com o estudo
citado pela ministra no seminário, 86% dos brasileiros
estão dispostos a adotar essa prática - e não
o fazem por falta de informação ou de coleta
seletiva municipal.
"A nova lei traz princípios
inovadores, já é uma realidade nas ações
empresariais, como a responsabilidade compartilhada na gestão
dos resíduos", ressaltou Victor Bicca, presidente
do Cempre, na abertura do evento. "O diálogo tem
sido a chave essencial para se construir um modelo brasileiro
para o setor, com o desafio de estruturar o parque industrial
de reciclagem e agregar valor ao produto reciclado."
Os municípios se engajam no processo,
segundo constatou a Pesquisa Ciclosoft sobre a coleta seletiva
nas cidades, divulgada pelo Cempre no seminário. Após
a nova lei, o número de prefeituras com o serviço
cresceu 73%. O custo da logística para se recolher
resíduos recicláveis ainda é alto, 4,5
vezes superior ao da coleta convencional, mas no passado chegou
a dez vezes. "A tendência é que diminua,
por meio da racionalização da coleta, transporte
de mais resíduos por quilometragem, e novos arranjos
e parcerias locais", explica André Vilhena, diretor-executivo
do Cempre.
A prefeitura de Natal (RN), por exemplo,
reduziu custos e aumentou a coleta seletiva ao contratar cooperativas
de catadores para a prestação do serviço.
"Transferimos para esses trabalhadores os valores anteriormente
pagos a empresas terceirizadas", informa Heverthon Rocha,
gerente de resíduos sólidos da cidade. Por meio
de contrato com cooperativas, a remuneração
atual é de R$ 0,05 por domicílio visitado, o
que hoje totaliza, somando outros pagamentos, R$ 48,7 mil
mensais - valor que se soma à renda dos cooperados
com a comercialização dos materiais recicláveis.
"Se fizemos em Natal, por que não
no Rio de Janeiro e em São Paulo?", sugere Severino
Lima Júnior, representante do Movimento Nacional dos
Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), no Rio Grande
do Norte. "Coleta seletiva não é custo,
mas investimento que reduz gastos com aterros", argumenta
Lima. Catador que quando criança vendia picolé
no lixão, Lima tornou-se liderança da categoria
em nível nacional, e viajou recentemente para conhecer
a experiência de reciclagem em países da Europa
e Ásia. "A expectativa, nos preparativos da capital
potiguar como sede da Copa do Mundo da Fifa, é que
o modelo coleta alcance independência política",
diz Lima.
Já em Linhares (ES), o arranjo
local teve como chave a parceria com a iniciativa privada,
que mobilizou poder público, catadores e ONGs. "Investimos
na construção de uma central de triagem mecanizada,
em terreno cedido pela prefeitura", conta Fabiano Rangel,
gerente de sustentabilidade da SABB Coca-Cola. Os custos de
manutenção e benefícios sociais são
cobertos pelo município, mas o plano é a nova
central, com capacidade de processar 160 toneladas mensais,
tornar-se autossuficiente em dois anos. "Queremos serviço
sem assistencialismo", diz Roberto Laureano, coordenador
nacional do MNCR, que contabiliza 20 mil catadores em processo
de organização no país.
Prefeituras
começam a cumprir lei da coleta
O número de municípios brasileiros
que implantaram coleta seletiva de lixo cresceu acentuadamente
após a aprovação da Política Nacional
de Resíduos Sólidos. "A tarefa é
difícil, mas não impossível", afirma
André Vilhena, diretor-executivo do Compromisso Empresarial
para Reciclagem (Cempre). Conforme a recente Pesquisa Ciclosoft
sobre a coleta municipal, pelo menos 766 cidades operam o
serviço, 73% a mais em relação ao estudo
realizado em 2010, antes de a Lei 12.305 entrar em vigor.
"As prefeituras se movimentam para
cumprir a lei e começa a ser revertida a tendência
de lentidão e até de certa estagnação
na cobertura populacional pela reciclagem", analisa Vilhena.
Nos últimos dois anos, a quantidade de habitantes atendidos
pulou de 22 milhões para 27 milhões, o que equivale
a 14% da população brasileira. "O número
está longe do satisfatório, mas o salto registrado
nos últimos anos é significativo e será
mais expressivo quando São Paulo e outras metrópoles
melhorarem o serviço de coleta", avalia Vilhena.
As regiões Sudeste e Sul, as mais
populosas, concentram 86% dos programas municipais, que deverão
ser impulsionados por meio de incentivos previstos para as
cidades-sede da Copa do Mundo. "Recursos existem, mas
falta capacidade de gestão por parte das prefeituras
no setor de limpeza urbana", diz Vilhena.
Realizado a cada dois anos desde 1994,
o Ciclosoft funciona como um termômetro para o setor
dimensionar políticas e investimentos. O estudo contabiliza
somente iniciativas consistentes que abrangem pelo menos 20%
da população com coleta seletiva - e não
ações esporádicas e isoladas. Oficialmente,
a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, do IBGE,
divulgada em 2010 com dados apurados em 2008, indica a existência
de 994 municípios com coleta para reciclagem.
De acordo com o estudo do Cempre, a maior
parte dos municípios (88%) realiza a coleta de porta
em porta, enquanto pouco mais da metade (53%) utiliza como
alternativa adicional os Pontos de Entrega Voluntária
(PEVs), espalhados em locais estratégicos da cidade,
onde a população deixa os materiais recicláveis.
Em 48% das cidades analisadas, o serviço fica a cargo
da própria prefeitura e em 26% ocorre a contratação
de empresas particulares.
É cada vez mais frequente a operação
do sistema por diferentes agentes, inclusive por cooperativas
de catadores. Em alguns casos, elas realizam a coleta nas
residências mediante contrato de prestação
de serviço com a prefeitura, além da triagem
para a venda dos materiais recicláveis às indústrias.
O poder público oferece às
cooperativas apoio para maquinário, galpões,
custos com água e energia, transporte, capacitação,
divulgação e educação ambiental.
Em Goiânia, o programa municipal, iniciado em 2008 com
quatro cooperativas, hoje tem a participação
de 16, que fazem a coleta uma vez por semana nos bairros centrais
e geram renda média em torno de R$ 800 mensais por
cooperado. "A adesão da população
é muito positiva", ressalta Letícia Loures,
coordenadora da iniciativa municipal.
Apesar do apoio dos moradores, o rejeito
- materiais que se misturam ao lixo orgânico e não
servem para reciclagem - é um problema que reduz os
ganhos dos catadores e aumenta o lixo que vai para o aterro.
Segundo o Ciclosoft, o rejeito corresponde a 17,4% do lixo
urbano coletado para reciclagem no Brasil, indicando a necessidade
de métodos mais adequados de recolhimento e investimentos
em educação e comunicação para
que a população faça a separação
correta.
Outro entrave é o alto custo do
serviço, 4,5 vezes superior ao da coleta do lixo comum,
atingindo em média US$ 212 por tonelada. Enquanto Campinas
(SP) registra o maior custo nacional (US$ 286), Santo André,
no ABC paulista, gasta US$ 34 por tonelada de lixo reciclável
coletado. "Além da coleta nas residências,
há 700 recipientes distribuídos na cidade para
entrega dos resíduos", diz Carlos Henrique Melo,
coordenador de coleta seletiva no município.
São José dos Campos (SP)
é um dos líderes em quantidade de material coletado
em relação à população.
São 99 toneladas por dia, recolhidas em todos os bairros
por caminhões da Urban, empresa municipal. Os resíduos
são levados para um centro de triagem, operado por
186 funcionários contratados pela prefeitura, com vendas
de R$ 191 mil mensais.
Transição
envolve riscos para catadores
Sebastião
dos Santos, da Associação dos Catadores
do Jardim Gramacho: "Fechamento sem amparo a essas
pessoas será a exclusão da exclusão" |
A implantação da Política
Nacional de Resíduos Sólidos é um momento
decisivo para os cerca de 1,2 milhão de catadores de
material reciclável que atuam no país. A ampliação
da cadeia de reciclagem pode ser uma oportunidade de ouro
para a regularização desses trabalhadores, que
em grande parte atuam isoladamente, sem organização
em cooperativas ou garantias trabalhistas.
No entanto, para Sebastião Carlos
dos Santos, o Tião, presidente da Associação
dos Catadores do Aterro Metropolitano do Jardim Gramacho,
em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, é preciso
ficar atento para os riscos dessa transição.
"A previsão de fechamento de todos os lixões
do país até 2014 pode piorar a situação
da categoria", alerta. "O simples fechamento dessas
áreas sem o amparo a essas pessoas será a exclusão
da exclusão", diz.
No fechamento do Lixão de Gramacho,
Tião explica que os cerca de 1,7 mil catadores que
trabalhavam no local receberam R$ 14 mil de indenização
cada um. Quinhentos deles serão empregados em uma usina
de reciclagem que está sendo construída às
margens da rodovia Washington Luiz, que liga o Rio de Janeiro
à Petrópolis, na região serrana. "Quem
não quis continuar na reciclagem está recebendo
cursos de capacitação para trabalhar em outras
áreas", explica o líder dos catadores.
Tião acredita que o caso do Aterro
de Gramacho é um exemplo de como se pode conduzir o
fechamento dos lixões sem piorar a situação
de trabalhadores. Mas alerta que o modelo não pode
ser único. "É preciso respeitar a realidade
de cada local", diz.
O processo de fechamento dos lixões,
no entanto, está atrasado em todo o país. Menos
de 10% dos municípios apresentou seus planos para o
fechamento dos aterros sanitários. Se contarmos os
planos efetivamente aprovados, o número é menor.
"Faltou vontade política dos municípios
para priorizar esse problema em vez da disputa eleitoral",
critica Luiz Henrique Silva, representante do Movimento Nacional
dos Catadores de Materiais Recicláveis em Minas Gerais.
Independentemente do destino dos lixões,
no entanto, os catadores têm uma série de reivindicações.
Uma delas é que o recolhimento seja remunerado pelo
serviço e não unicamente pelo valor do material
recolhido. O pagamento pelo serviço de coleta diminuiria,
por exemplo, o impacto das flutuações de preços
do mercado internacional de matérias-primas.
Na crise internacional de 2008 e 2009,
por exemplo, o quilo do plástico para reciclagem caiu
de R$ 1 para R$ 0,60, e o da garrafa PET, de R$ 1,20 para
R$ 0,35, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), provocando o fechamento de indústrias
de reciclagem e de cooperativas. "O mercado não
é organizado, por isso trabalhadores e cooperativas
ficam à mercê da especulação das
empresas, que usam a nossa mão de obra barata",
reclama Silva.
Tião, por sua vez, acrescenta que
cerca de 90% da matéria-prima reciclada passa pelos
catadores. "O Brasil perde R$ 8 bilhões com desperdício
de material reciclado."
A conta, afirma ele, não inclui
os benefícios gerados ao longo da cadeia produtiva
e o efeito sobre o emprego e a renda. "O trabalho dos
catadores reduz enormemente o volume do lixo coletado pelas
prefeituras e os trabalhadores precisam ser pagos por esse
serviço."
O pagamento por esse serviço aos
catadores está incluído no Projeto de Lei 792/07,
que tramita no Congresso, e prevê a remuneração
dos trabalhadores de recicláveis, organizados em cooperativas,
que promovam melhorias ou manutenção de ecossistemas
que geram serviços ambientais.
Segundo o Ministério das Cidades,
a principal reivindicação da categoria é,
a princípio, viável. "Experiências
existentes de coleta seletiva no Brasil têm demonstrado
que os catadores se viabilizam profissionalmente quando capacitados,
organizados e estruturados fisicamente em associações
e cooperativas e se forem remunerados por isso", avalia
o ministério.
"Existem, no entanto, muitos obstáculos
que impedem, prejudicam ou limitam o acesso dos catadores
ao devido nível de organização necessário
e aos meios para garantir e elevar os seus rendimentos",
admite o ministério. "A exploração
dos catadores pelos atravessadores, comerciantes e outros
atores da estrutura das cadeias da reciclagem; a postura de
empresas terceirizadas na coleta de lixo urbano; a relutância
de algumas prefeituras na contratação de catadores
ou cessão de uso e na localização das
instalações de triagem; a discriminação
a que os catadores são alvo por parte de moradores
próximos a galpões - são alguns dos problemas
enfrentados cotidianamente pelos catadores de materiais recicláveis."
Entre os projetos de inclusão social
do setor, a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do
Ministério das Cidades destaca a construção
de 90 galpões em 64 municípios para atender
cooperativas e associações. Foram liberados
R$ 50 milhões do orçamento do Programa de Resíduos
Sólidos Urbanos com essa finalidade. A Secretaria também
lembra que a Lei da Política Nacional de Saneamento
Básico coordenada pelo órgão permite
a contratação de catadores sem licitação,
como forma de estimular a categoria.
Os catadores também pedem um regime
de incentivos para as cooperativas e para toda a cadeia de
reciclagem de lixo. "O material reciclado acaba sofrendo
bitributação", reclama Tião. "Isso
é um dos fatores que tornam, por exemplo, o papel reciclado
um material bem mais caro do que o papel virgem. Além
disso, as cooperativas não podem ser tributadas com
a mesma carga de uma empresa normal, porque estamos falando
de uma categoria que é vulnerável do ponto de
vista social."
O estabelecimento de uma cadeia de logística
reversa também pode ser uma boa oportunidade de promover
a inclusão social dos catadores. Silva conta que a
categoria tem negociado junto ao governo a participação
das cooperativas na regulamentação da atividade.
"Temos de ser ouvidos. Historicamente, somos os responsáveis
pela existência de uma cadeia de reciclagem no país",
diz.
De acordo com o ministério, os
catadores têm, por lei, prioridade na participação
nas atividades de Coleta Seletiva e Logística Reversa.
Embalagem
ganha parâmetro verde com o 'ecodesign'
De um lado, o desperdício; de outro,
a perspectiva de escassez de matérias-primas em um
mundo que caminha para os 9 bilhões de habitantes até
2050, segundo projeções das Nações
Unidas. A resposta para o desafio de fazer mais com menos
deve passar pelo design dos produtos e das embalagens. Porém,
a adoção de atributos de sustentabilidade, o
chamado ecodesign, ainda não é recorrente nas
pranchetas dos designers.
Fred Gelli: nem as grandes premiações
internacionais de design incorporaram critérios
de sustentabilidade |
"O design ainda não incorporou
essa nova inteligência focada na sustentabilidade e
na redução dos impactos ambientais dos produtos.
E isso ocorre não só no Brasil, no mundo todo",
afirma o designer Fred Gelli, sócio e diretor de criação
da Tátil Design de Ideias, uma das agências precursoras
em ecodesign no país, que acumula em sua trajetória
a criação da logomarca da Olimpíada Rio
2016, cuja licitação venceu.
Gelli, que também é professor
do Departamento de Design da PUC-RJ, assinala que nem as grandes
premiações internacionais de design incorporaram
critérios de sustentabilidade na avaliação
dos trabalhos. "Sou jurado de prêmios como Cannes
e D&AD Global Awards e posso dizer que o design verde
não é critério de avaliação,
ainda", diz. "Isso é um absurdo, se levarmos
em consideração que 33% do lixo produzido no
mundo são embalagens."
Desde sua graduação, Gelli
estuda formas de design aliadas à natureza: é
um pioneiro da chamada biomimética no Brasil - o ramo
do design que estuda as formas da natureza para tentar replicá-las
no desenho dos produtos. Com esse background, sua agência
vem trabalhando na criação de embalagens mais
ecoeficientes para grandes empresas, como Coca-Cola e Natura.
Com a adoção de ferramentas
como a análise de ciclo de vida (ACV) é possível
determinar, por exemplo, se é mais viável ambientalmente
para uma empresa utilizar embalagens de plástico, vidro
ou papelão - ou inovar no uso de novos materiais, por
exemplo. Foi assim com a linha Ekos da Natura, cujas embalagens
passaram a ser fabricadas com maior percentual de PET reciclado,
além de ter informações sobre sustentabilidade
presentes no rótulo - a chamada rotulagem ambiental.
Uma tendência crescente é
o chamado Cradle to Cradle, ou C2C (em tradução
literal, "do berço ao berço"). Formulado
em 2002 pelo arquiteto William McDonough e pelo químico
Michael Braungart em seu livro homônimo, o conceito
C2C é simples de entender, mas ainda difícil
de ser posto em prática. Os autores defendem que cada
novo produto ou embalagem seja desenhado de modo a não
mais gerar resíduo ao fim de sua vida útil,
e sim se tornar a matéria-prima de um novo processo
produtivo, fechando o ciclo sem perdas materiais - ou com
o mínimo de perdas possível.
A lacuna de informações
sobre as aplicações de ecodesign no Brasil levou
a designer paulista Elisa Quartim a compilar todo tipo de
informação que recebia sobre o tema. Assim,
ela criou o site Embalagem sustentável (www.embalagemsustentavel.com.br),
na rede desde 2008, para mostrar exemplos tangíveis
de design sustentável, praticados por empresas do Brasil
e do exterior.
"No Brasil, o design voltado para
a redução do impacto ambiental de um produto
ou embalagem ainda é pouco explorado. Mas está
começando", diz Quartim, que atualmente faz um
projeto de pesquisa sobre as embalagens de produtos orgânicos
no Brasil. Segundo a designer, o processo de mudança
de mentalidade começa pela redução de
espessura, ou volume de uma embalagem. "Isso traz ganhos
para a empresa, como economia de materiais e menores custos
de logística", diz. Além disso, os ganhos
econômicos costumam vir acompanhados de benefícios
ambientais, como a redução emissões de
CO2. "O que também se traduz em um ganho de reputação
para as empresas", analisa Quartim.
Uma empresa que tem buscado essa diretriz
- reduzir peso e volume das embalagens - é a fabricante
de alimentos Danone. Em 2009 a empresa trouxe ao Brasil uma
nova tecnologia, batizada de Foam ("espuma", em
inglês), que expande a chapa plástica utilizada
nas embalagens, tornando-a aerada - diminuindo o peso das
embalagens em até 19% e também o consumo de
matéria-prima. Também passou a utilizar o "polietileno
verde", resina fabricada pela Braskem a partir da cana-de-açúcar,
em embalagens em formato garrafinha, que não podem
ser moldadas no sistema Foam.
"A motivação inicial
para a adoção dessas novas tecnologias foi diminuir
a pegada de carbono das embalagens da empresa", explica
Lucas Urbano, gerente de sustentabilidade da Danone. "Nesse
processo, tomamos conhecimento de várias ferramentas
de ecodesign que estão sendo estudadas, como a análise
de ciclo de vida e os biomateriais", diz Urbano.
Há quem veja a Lei de Resíduos
Sólidos como a oportunidade que faltava para que o
design sustentável deslanche no Brasil. É o
caso de Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial
Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds).
"A lei impulsionará uma nova indústria,
pois responsabiliza toda a cadeia pela gestão dos resíduos",
diz. Segundo Marina, as empresas brasileiras já têm
a percepção de que o design precisa incorporar
o desafio do descarte correto. Não por acaso, o ecodesign
e a gestão dos resíduos são temas do
documento Visão 2050, do Cebds, lançado durante
a Rio+20, que pretende nortear as empresas nas práticas
de sustentabilidade. "O lixo pode virar novos produtos
e energia. Essa indústria será prioritária
para o Brasil."
Preço e estímulo
à coleta são bases para reciclagem
O preço é um dos fatores
que explicam casos de sucesso e outros nem tanto na cadeia
de reciclagem. É o que opõe a lata de alumínio,
que tornou o Brasil campeão mundial na reciclagem desse
material, a outros materiais como vidro e papel.
Um estudo da Consultoria Inter.B revela
que enquanto o índice de reciclagem das latinhas saltou
de 50% para 98,2% em menos de duas décadas, o do vidro
saiu de 25%, mas só chegou a 47%. Já o de embalagens
pet passou de 18,8% para 55,6% em quinze anos, enquanto o
de papel variou de 37,5% para 43,7%.
O mais recente indicador de mercado do
Cempre dá uma pista da disparidade. A tonelada da lata
de alumínio prensada e limpa varia de R$ 2.000, em
Rio Branco (AC), a R$ 3.100 em Porto Alegre (RS). A de pet
fica entre R$ 500 na capital do Acre e R$ 1.900 em Itabira
(MG). A tonelada de vidro incolor, que vale R$ 100 em Rio
Branco, tem cotação máxima de R$ 265
em Itabira. O papel tem preço mínimo de R$ 100
na capital acreana e valor máximo de R$ 810 na cidade
mineira.
Preços e estímulos à
coleta pós-consumo e ao reaproveitamento dos materiais
são fundamentais para a cadeia da reciclagem. Especialistas
apontam realidades diferentes na capacidade instalada no país
para o processamento dos produtos recicláveis, mas
é fundamental baratear a logística de coleta
e transporte para garantir a sustentabilidade dos negócios.
Os gargalos e desafios são quase unanimidade. É
preciso desde treinamento e capacitação dos
gestores municipais para a valorização do investimento
no tratamento de resíduo pós-consumo até
o fortalecimento da indústria de reciclagem.
Desonerar a cadeia produtiva e aumentar
o número de cooperativas de catadores são outros
dois desafios. Todos defendem o fechamento dos lixões,
que recebem 50% dos resíduos sólidos das grandes
cidades, o que já está previsto em lei.
Cláudio Frischtak: Economia
sustentável é bom negócio para a
sociedade |
"Papéis, embalagens longa
vida, latas de alumínio e garrafas pet já têm
valores de mercado que viabilizam a reciclagem, mas para outros
produtos a questão do preço e as condições
de transformação são mais complicadas.
Ainda existe uma demanda reprimida, mas com implantação
do Plano Nacional de Resíduos Sólidos deve-se
aumentar a capacidade de processamento", diz Walfredo
Schindler, da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento
Sustentável (FBDS).
"Só se fala de coleta, mas
o gargalo está no consumo do produto reciclável.
Qualquer material com valor inferior a R$ 300 por tonelada
é economicamente inviável. Reciclagem é
um processo logístico e o Brasil tem a logística
mais cara do mundo", diz Adriano Assi, sócio-diretor
da EcoBrasil, organizadora da Exposucata, feira internacional
de negócios da indústria da reciclagem que será
realizada de 11 a 13 de setembro em São Paulo.
"A reciclagem de latas de alumínio
ilustra um ponto essencial: transitar para a economia verde,
sustentável e inclusiva é um bom negócio
para a sociedade", afirma o economista Cláudio
Frischtak, da Inter.B.
O Brasil, que tem potencial de reciclagem
de R$ 8 bilhões por ano, de acordo com estudo do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), só recicla
R$ 3 bilhões. A cadeia de reciclagem de latas de alumínio
gira R$ 1,2 bilhão. A estrutura de coleta das latinhas
envolve quase um milhão de catadores e cerca de 700
cooperativas. Foi o que permitiu a inclusão social
de muita gente condenada ao trabalho nos lixões e reduziu
parte das desigualdades. Uma pesquisa da Fundação
Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais revela que as cooperativas
aumentam a renda com uma jornada de trabalho menor na comparação
com os não associados: 17,9% dos catadores cooperativados
recebem entre R$ 601 e R$ 1.000 e 11,7% ganham acima de R$
1.001, enquanto apenas 12,4% dos catadores de rua ganham até
R$ 1.000 e só 4,6% têm rendimento acima desse
valor.
|
Projetos
ambientais da Tetra Pak atingem meio milhão de pessoas
16/07/2012
Os projetos itinerantes (Re)ciclo de Cinema,
Palco da Reciclagem e Cena Ambiental, promovidos pela Tetra Pak,
que, por meio de peças de teatro e exibições
gratuitas de filmes, levam a conscientização ambiental
a diversas cidades do país, estão contabilizando 500
mil pessoas atingidas.
Juntos, os projetos já passaram
por 359 cidades e 21 estados, além do Distrito Federal. Além
das exibições gratuitas, os eventos oferecem oficinas
sobre reciclagem e meio ambiente para alunos de escolas municipais
locais. Até agora, 1.027 instituições de ensino
e 260 mil crianças receberam o projeto.
Leila
Monroes Blog
Big Wins at Rio+20's: a Platform, Partnerships and Business Opportunities
to Stop Plastic Pollution
What do mushrooms, tires, and soda bottles have
in common? They are all being used, recycled or even upcycled through
innovative programs that prevent waste from entering the environment.
Despite some disappointments in the formal negotiations
process, the UN Conference on Sustainable Development -- Rio+20
-- has been a hugely valuable gathering of the smartest minds in
business, law and policy. 50,000 passionate experts came to Rio
de Janeiro this week to exchange information, make commitments,
and build partnerships to protect our planet and its people
from many threats and challenges.
To help solve the problem of plastic pollution
which impacts human and ecosystem health both on land and
in the marine environment important opportunities were showcased
at the launch of the UN Environment Programme (UNEP) Global Partnership
on Marine Litter and the Plasticity Forum. At these events, NRDC
presented the Global Goal and Commitment to Stop Plastic Pollution,
housed on a web-based platform to motivate and showcase actions
from government, business, and organizations, committed to reducing
marine plastic pollution at its source.
Plastic that ends up as pollution in the ocean
has serious consequences for marine life and possible grave consequences
for the food chain and human health.
· Hundreds of species and thousands of
individual animals -- including significant numbers of endangered
species such as Hawaiian monk seals and every species of turtle
-- have been killed or seriously harmed by being entangled or ingesting
plastics.
· Plastic in the ocean breaks down into
increasingly smaller pieces without biodegrading. Research has found
that toxins bond to these micro-particles of plastic, and they are
frequently ingested by fish.
· Plastic debris also causes substantial
economic impacts to coastal economies: debris in storm drains, on
the beach, and in the ocean causes flooding, navigational hazards,
and is a blight to the tourism industry; governments are forced
to pay for expensive cleanup measures.
To date, 32 entities from government, business,
and civil society have signed on, committing to advancing marine
plastic pollution reduction measures in whatever manner is most
appropriate for them. These measures include:
· Laws and polices that make producers
responsible for recycling disposable plastic packaging at the end
of its useful life. This creates an incentive to use less
packaging or more recyclable packaging.
· Regulations to restrict certain products,
such as plastic bags, that are difficult to clean up or recycle.
NRDC's Frances Beinecke hosted a panel at the
Plasticity Forum on extended producer responsibility and waste reduction
techniques, with Reciclinap, ReciColeta, As You Sow, and GAIA.
NRDC was supported by over 8000 school children
from California in delivering this message to Rio+20. We now invite
any government, business, or organization to sign-on to the Global
Goal and Commitment to Stop Plastic Pollution and help carry the
momentum of Rio+20 forward with bold action to protect our communities
and the environment from plastic pollution.
São
Gabriel terá coleta seletiva de porta em porta
Caminhão foi adquirido e passará
em 26 bairros
A coleta seletiva de lixo passará a fazer parte do dia a
dia dos moradores de São Gabriel da Palha, Noroeste do Espírito
Santo. A prefeitura comprou um caminhão para realizar o trabalho
de porta em porta ainda neste ano. O veículo foi comprado
em parceria com o governo do Estado e o investimento foi de R$ 156
mil.
Agora, o caminhão será adaptado e receberá
uma espécie de gaiola de carroceria para acomodar os mateirais
recicláveis recolhidos pela cidade.
São Gabriel da Palha recolhe por dia cerca de 30t de lixo,
e segundo o secretário de Serviços Urbanos Clávis
De Nadai, 40% deste total deverá ser reciclado. Ele ressalta
que a coleta em todo município só será possível
quando o projeto Espiríto Santo sem Lixão entrar em
prática.
O caminhão passará em dois bairros por dia e a cada
quinzena terá atendido 26 bairros da cidades. De Nadai explica
que só o lixo seco será recolhido, por isso os moradores
não terão problemas em guardar o material por este
tempo. O lixo úmido será recolhido pelo caminhão
compactador como é feito hoje.
Há cerca de seis meses o bairro Populares já participa
de um projeto-piloto de coleta seletiva. "Queríamos
ver a reação da população e todos aderiram,"
afirmou.
Cariacica
começa a realizar coleta seletiva de lixo
Letícia Gonçalves
Rádio CBN Vitória (93,5 FM)
foto: Letícia Gonçalves l Rádio CBN Vitória
Carro da coleta seletiva de lixo em
Cariacica |
Um projeto piloto de coleta seletiva de lixo começa nesta
quarta-feira (23), em Cariacica. Por enquanto, o serviço
será restrito ao bairro Vila Capixaba. Os moradores devem
separar o lixo seco do lixo úmido. Na mesma sacola, podem
colocar papel, vidro, plástico e alumínio. Mas o lixo
orgânico deve ficar em outro recipiente.
Todas as quartas-feiras, a partir das 17 horas, o carro da coleta
seletiva passará nas casas para recolher o material, que
será levado para a Associação de Catadores
de Nova Rosa da Penha. De acordo com o secretário de Desenvolvimento
Econômico de Cariacica, Mauro Rondon, Vila Capixaba foi o
bairro escolhido para ser o primeiro a ter a coleta seletiva porque
tem um porte médio, com 5,3 mil habitantes, e reúne
casas, comércio e indústrias.
Ele diz ainda que o lixo pode ser uma fonte de renda. "São
todos materiais que quando chegam numa área de reciclagem
são comercializados e geram renda, emprego e qualidade de
vida para quem vive com isso".
Depois dessa experiência, o próximo bairro a contar
com o serviço em Cariacica será Caramuru. A presidente
da Associação de Catadores de Material Reciclável
de Nova Rosa da Penha, Isabel Costa, explica que é muito
importante que as pessoas separem o lixo para facilitar o trabalho
dos catadores da associação e também para que
o material possa ser reaproveitado.
"É difícil, dá muito mais trabalho separar
o resíduo quando ele vem misturado. Com a coleta seletiva
já vem só o reciclável e e só a gente
segregar".
Isabel diz que gostou da iniciativa porque,
com o aumento do material reciclável que chega à associação,
também cresce o faturamento dos associados. Mas ela espera
que o serviço seja logo ampliado para todos os bairros de
Cariacica.
O presidente da Associação de Moradores de Vila Capixaba,
Clóvis dos Reis, diz que a população foi orientada,
em reuniões, sobre como separar o lixo. O projeto piloto
de coleta de lixo de Cariacica atende a uma lei que estipula que
todos os municípios tenham essa coleta até 2014, começando
este ano. Cariacica produz 9,5 mil toneladas de lixo por mês,
sendo que 40% podem ser reciclados.
Suzano
lança papel cartão feito com aparas recicladas
Agencia estado, 5 de maio de 12
A Suzano Papel e Celulose anunciou nesta segunda-feira o lançamento
do papel cartão feito de aparas recuperadas de embalagens
longa vida da Tetra Pak. A unidade de reciclagem instalada na fábrica
de Embu, em São Paulo, tem a meta de processar mil toneladas
por mês do produto, que contém no mínimo 30%
de aparas recuperadas. O processo de produção consiste
na separação das fibras do papel, do polietileno (plástico)
e do alumínio. O papel cartão, chamado de Art Premium
PCR (Post Consumer Recycled, reciclado pós-consumo), será
utilizado na fabricação das embalagens de Band-Aid.
Já o polietileno e o alumínio serão vendidos
para a Ciclo, fabricante de telhas recicladas usadas na construção
civil.
De acordo com a Suzano, a produção
de papel a partir de aparas pós-consumo reduzirá significativamente
o envio de rejeitos para aterros sanitários e deve estimular
a participação de cooperativas de catadores de material
reciclável. O produto foi desenvolvido em conjunto com a
Tetra Pak, líder mundial em envase de alimentos, e a Ciclo.
O projeto contou ainda com a parceria da Johnson & Johnson Brasil,
que buscou a Suzano para criar uma embalagem diferenciada para o
Band-Aid.
Prefeito
que iniciar tratamento adequado do lixo não será punido
com base na nova lei de resíduos sólidos
27/3/2012 19:31, Por Agência Brasil
Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Brasília Os municípios que não conseguirem
se adequar às normas previstas na Política Nacional
de Resíduos Sólidos, como a eliminação
definitiva dos lixões até 2014, mas estiverem com
as ações em andamento, não devem temer a lei
de crimes ambientais. Na avaliação do secretário
de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério
do Meio Ambiente, Nabil Bonduki, o prazo definido pela legislação
que trata da gestão de resíduos é curto, mas
as prefeituras precisam, pelo menos, iniciar as ações
para enfrentar o problema do lixo sob a ótica da nova lei.
Não queremos punir por punir e transformar administradores
municipais em criminosos ambientais. O município que estiver
agindo no sentido de resolver o problema terá como fazer
acordos. Mas, os gestores municipais que estiverem dormindo até
2014, correm o risco de ser responsabilizados, alertou.
Além de acabar com os lixões, substituindo-os por
aterros sanitários adequados, as prefeituras têm dois
anos para implantar a coleta seletiva de lixo e a logística
reversa, que são os processos de recolhimento de lixo pelos
próprios fabricantes e por empresas de reciclagem. De acordo
com o mapa do Ministério do Meio Ambiente, algumas regiões
estão adiantadas na implantação dos novos procedimentos
em relação ao lixo.
Londrina e Araxá, por exemplo, foram apontadas como modelo
na coleta e no tratamento adequado do lixo. Por outro lado, cerca
de 70% dos municípios brasileiros estão bem distantes
das obrigações que a nova legislação
impõe.
Sem
sistema estruturado, grupo de 4 mil pessoas sustenta a reciclagem
no Rio
Meta de secretaria é fechar todos os
vazadouros de lixo a céu aberto até julho deste ano
Catadores de material reciclável chegam de caminhão
ao aterro de Jardim Gramacho: informalidade movimentava R$ 24 milhões
por ano, até 2011, diz a Comlurb Pedro Kirilos / O Globo
RIO - O catador é hoje o principal agente
do precário sistema de reciclagem no Rio. Se, no Brasil,
o peso dessa mão de obra informal é imenso na cadeia
do reaproveitamento dos resíduos, em países europeus
este ator passou a ter um papel secundário. Em países
como Alemanha e Portugal, a coleta do material reciclável
é feita ou por funcionários dos municípios
ou por empresas financiadas pelas indústrias. Ou seja, os
catadores, tema do terceiro dia da série "Desleixo insustentável",
transformaram-se em empregados de usinas recicladoras ou empresários.
Um dos últimos países europeus
a implementar um sistema de coleta seletiva eficiente, Portugal
viu, nos últimos 20 anos, a figura do catador minguar das
ruas. Dulce Pássaro, ex-ministra portuguesa do Ambiente,
detalha o rito de passagem do catador:
Nos anos 90, havia nas grandes cidades
famílias coletando material nas lixeiras urbanas. Após
a legislação da Comunidade Europeia, em 1994, estas
pessoas foram requalificadas e passaram a trabalhar nas empresas
do setor. Foi uma transição demorada, mas fundamental
para a implementação de uma indústria de reciclagem
ambientalmente adequada.
No Rio, a transição começou
há menos de um ano, com a decisão de encerrar todos
os lixões. A meta da Secretaria estadual do Ambiente é
fechar todos os vazadouros de lixo a céu aberto até
julho deste ano. A inclusão de quatro mil catadores da Região
Metropolitana num modelo eficiente é o desafio que se impõe
às empresas e ao poder público. Hoje, segundo a Comlurb,
da parcela de 3% de reciclagem diária do lixo carioca, catadores
cooperativados ou não respondem pela maior
parte (2,73%).
Fim de lixões faz surgir um drama
A Política Nacional de Resíduos
Sólidos (lei 12.305/2010) que visa a mudar esse quadro
determina "a integração dos catadores
de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações
que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida
dos produtos". Na avaliação do promotor Sávio
Bittencourt, presidente da Associação Brasileira do
Ministério Público de Meio Ambiente (Abrampa), esta
inclusão deve priorizar, antes de tudo, a eficiência
ambiental:
Catador não precisa morrer catador.
Pode virar empresário num novo sistema, como na Europa. Usar
cooperativa de catadores como unidade de gestão preferencial
para reciclagem me preocupa quanto à eficácia. Resolver,
ao mesmo tempo, um problema ambiental e outro social nem sempre
dá certo.
No Rio, porém, as questões sociais
estão longe de serem solucionadas. A força da lei
12.305 gera um colapso no lado mais frágil da reciclagem.
O bairro Fazenda dos Mineiros, em São Gonçalo, vive
momentos de tensão social. Pelo menos 300 famílias,
que há décadas obtinham seu sustento no lixão
de Itaoca, estão sem renda com o fim do vazadouro, após
a inauguração do aterro sanitário do Anaia
Pequeno.
Em Jardim Gramacho, Duque de Caxias, o sentimento
de apreensão é o mesmo entre 1.200 catadores
ali a separação manual do lixo movimentou, até
o ano passado R$ 24 milhões anuais, segundo a Comlurb.
A lei está sendo ignorada pelas prefeituras,
diz o Movimento Nacional dos Catadores de Recicláveis.
Em São Gonçalo ocorre o
mesmo que em Magé: lá, em 2009, o lixão fechou,
e os catadores ficaram sem alternativa protesta Custódio
da Silva, um dos líderes do movimento.
O próprio coordenador do programa Recicla
Rio, da Secretaria estadual do Ambiente, Jorge Pinheiro, admite
que "o catador está arriscado de ser alijado do processo":
O desafio é fazer com que eles
consigam participar do novo sistema de gestão. No caso de
Gramacho, há perspectiva de solução, com um
fundo de amparo ao catador.
Enquanto os recursos não vêm, sobram
histórias de um segmento sem chão. Moradora da Favela
Beira-Mar, em Caxias, Angélica Sabino, de 42 anos, é
catadora de Gramacho há 20 anos e diz não saber o
que fazer com o fim do lixão, programado para julho.
Entrei aqui para bancar o tratamento
da minha filha, que tinha sopro no coração. Como quem
depende do SUS morre na fila, decidi pagar um plano de saúde.
Aqui no lixão comecei a ganhar mais do que como auxiliar
de serviços gerais e faxineira diz.
Na Fazenda dos Mineiros, bairro dominado pelo
tráfico, casebres com tábuas colhidas no lixo abrigaram,
durante 40 anos, a força motriz da reciclagem local. A engrenagem
parou em fevereiro, quando o lixão foi fechado.
É duro ser tratado como lixo depois
de anos catando matéria-prima diz Jandira Albino,
de 57 anos. No lixão, achávamos frango congelado,
uma carninha para a família...
Muitos ex-catadores de Itaoca reclamam que foram
excluídos do cadastro da Haztec (empresa que administra o
novo aterro) e que não conseguem sacar a ajuda de custo mensal
de R$ 200. A Haztec informou, no entanto, que foram beneficiados
248 ex-trabalhadores que apresentaram CPF e identidade. Os catadores
dizem ainda que a prefeitura de São Gonçalo não
está dando a verba complementar de R$ 100. O município
afirma que não prometeu verba, mas sim cestas básicas.
Longe dos antigos vazadouros, os catadores,
que diariamente recolhem o lixo reciclável no Centro, mostram
outros lados das agruras da profissão. O único "veículo
de tração animal" que cruza diariamente as avenidas
Presidente Vargas e Rio Branco é o burro sem rabo. Homens
e mulheres ganham cerca de R$ 35 por noite revirando os restos da
área central da cidade. Correm contra o tempo, entre o fim
do horário comercial e a coleta da Comlurb, em busca de garrafas
PET, papelão, papel branco, latinhas, ferro e cobre.
É massacrante - define Beto
Nascimento, que há seis anos recolhe em torno de 180 quilos
de papelão a cada noite de trabalho.
Ineficientes,
usinas de reciclagem de lixo desperdiçam milhões
Inaugurada em 1993, a usina da Comlurb em Jacarepaguá,
onde deveria ser feita a separação do lixo, está
desativada: a companhia argumenta que área se tornou residencial
Paulo Nicolella / O Globo
RIO - Mesmo se toda a população
do Rio participasse da cruzada pela reciclagem, a Comlurb não
estaria estruturada para tanta demanda. Das três usinas de
separação de lixo, que custaram aos cofres públicos
R$ 79 milhões, uma foi desativada, outra funciona com um
terço de sua capacidade e a terceira opera precariamente.
Inaugurada durante a Rio-92, com pompa e circunstância,
a usina de triagem do Caju sempre foi uma dor de cabeça para
os gestores ambientais da prefeitura. Segundo a atual administração
da Comlurb, o Rio comprou gato por lebre: a tecnologia francesa
já estava defasada.
Usina do Caju, uma constante dor de cabeça
A usina do Caju teria dupla função:
a de compostagem (processo de transformação da matéria
orgânica em fertilizante) e a de separação do
material reciclável, para ser devolvido ao setor produtivo.
Mas não foi o que aconteceu.
Compraram em 1992 (no governo do prefeito
Marcello Alencar) uma tecnologia totalmente ultrapassada. A usina
então não fez nem a compostagem nem a reciclagem da
maneira adequada. Tanto que, dois anos depois, fechou as portas.
Em 2000, por força de um Termo de Ajustamento de Conduta
(TAC) exigido pelo Ministério Público estadual, a
usina voltou a funcionar. Só que ela tem capacidade de processar
mil toneladas por dia, metade para o orgânico e a outra metade
para o reciclável. Hoje processa em torno de 300 toneladas,
sendo apenas 10% de material reciclável. Na verdade, a usina
não tem uma manutenção constante diz
o gerente da usina do Caju, José Emídio de Araújo
Neto, acrescentando que a Comlurb já negocia para que a iniciativa
privada assuma a unidade.
Secretário municipal de Obras na gestão
de Marcello Alencar entre 1989 e 1992, o atual deputado Luiz Paulo
Corrêa da Rocha (PSDB) argumenta que o problema não
foi a tecnologia ultrapassada das usinas:
A tecnologia era francesa e considerada
de ponta. O problema foi falta de manutenção ao longo
do tempo. Ajustes teriam de ter sido feitos.
A falta de cuidados técnicos indispensáveis
à operação da usina do Caju é facilmente
observável. Apenas uma das duas unidades de separação
funciona. E o lixo domiciliar orgânico é jogado no
mesmo fosso do reciclado, não havendo divisão entre
eles.
É claro que seria melhor se houvesse
um fosso só para lixo reciclável disse um funcionário,
sem se identificar.
A 31 quilômetros do Caju, a Usina de Jacarepaguá,
inaugurada em 1993, mantém galpões vazios, onde deveria
haver a separação do lixo. A estrutura chama a atenção
pela grandiosidade, em contraste com a falta de atividade. De acordo
com a presidente da Comlurb, Angela Fonti, com o surgimento de condomínios
de classe média alta no entorno da usina localizada
numa área residencial houve muitos protestos contra
a presença das instalações, levando a empresa
a desativá-las.
Na usina de Irajá, em operação
desde 1977, sequer há esteiras para a separação
do lixo. Nesse quadro, o percentual de 0,27% de reciclagem parece
até muito.
O
passo a passo da coleta de lixo que ainda engatinha
De Santa Teresa a Benfica, caminhão percorre
27km e chega ao destino final com apenas 25% de sua capacidade
O gari Luiz Carlos dos Santos, de 55 anos, recolhe embalagens de
plástico e vidro numa rua de Santa Teresa e as deposita no
caminhão da coleta seletiva Pedro Kirilos / O Globo
RIO - O carioca que quiser participar da coleta
seletiva de lixo precisa de zelo e disciplina. Em primeiro lugar,
o caminhão só passa uma vez por semana em cada rua.
E só recolhe os recicláveis plásticos,
papéis/papelão, alumínio e vidro depositados
em sacos transparentes, medida que visa a garantir que restos de
comida não estão misturados ao material que vai virar
insumo para indústrias.
Ao acompanharem a coleta seletiva no dia 2 de
março, repórteres do GLOBO observaram apenas alguns
poucos desses sacos dispostos nas ruas de Santa Teresa. Às
8h30m, o caminhão saiu da gerência da Comlurb em Botafogo.
Já na Rua Progresso, o gari Luiz Carlos dos Santos, de 55
anos, recebeu um caloroso abraço da aposentada Miriam Fontenele,
de 74.
Faço a separação
do material com muito cuidado. Desde cedo espero a turma da Comlurb
conta a moradora.
Depois de oferecer água gelada aos garis,
Miriam se despede. A viagem segue pelas ruas Monte Alegre, Riachuelo,
Almirante Alexandrino e Dr. Júlio Otoni. Às 11h, o
caminhão, com cerca de 2 toneladas de recicláveis
(um quarto da capacidade) entra na Usina do Caju, para pesar.
O caminhão está vazio.
Na Tijuca, por exemplo, a quantidade de material que a gente pega
é bem maior diz o motorista do caminhão, Marcelo
Bonomeddi, de 39 anos.
Depois de 150 minutos e 27 quilômetros,
a máquina despeja o material num galpão da Associação
Beneficente Padre Navarro, em Benfica. Lá funciona uma cooperativa,
com 25 pessoas. Célia Ferreira Godinho, de 54 anos, é
uma delas. Ela conta que construiu a casa dos filhos, na Penha,
com o dinheiro do trabalho. Todos os dias, chega ao galpão
às 7h e só vai embora às 17h. Ela recebe de
R$ 400 a R$ 600 por mês.
Agora estou fazendo um quarto para mim
na Mangueira. Só saio daqui no dia que isso acabar
afirma.
Se do lado de fora os termômetros marcavam
quase 40 graus, dentro do galpão o calor parecia ainda maior.
Alheia ao desconforto causado pelo telhado de amianto, Deise Silva,
de 45 anos, moradora do Caju, comentou, um tanto sem jeito, que
prefere ser catadora a ficar em casa.
Tenho dois filhos e um neto para criar.
Aqui a gente ganha por produção: quem separa mais,
ganha mais explica. Não vou ficar em casa recebendo
ordem de marido.
Do galpão da Associação
Padre Navarro, imóvel que pertence à Marinha, os recicláveis
são vendidos a empresas. O quilo de papel vale 70 centavos;
o de garrafas PET, R$ 1,60 e o de alumínio, R$ 2,20. O destino
final é bem longe dali, em usinas de Minais Gerais, São
Paulo e Paraná.
Já houve fila aqui na porta em
busca de emprego. Hoje há mais dificuldade de se conseguir
mão de obra. As pessoas estão atrás de melhores
oportunidades afirma o encarregado da cooperativa, José
Divaldo de Metos.
Apesar dos poucos avanços, a legislação
é severa com os moradores e comerciantes que ignoram a separação
do lixo: A lei 3.273/2001 diz que depositar resíduos diferentes
daqueles a que se destinam os recipientes de coleta seletiva constitui
infração punida com multa inicial de R$ 50. Mas, até
hoje, a penalidade nunca foi aplicada a pessoas físicas ou
jurídicas.
Rio
só reaproveita 3% das 8,4 mil toneladas de lixo geradas por
dia
Comlurb separa apenas 0,27% desse total. O resto
fica a cargo de catadores
Aterro Jardim Gramacho, considerado o maior aterro da america latina.
Pedro Kirilos / O Globo
RIO - Cidade que vai sediar a Rio+20, conferência
da ONU sobre desenvolvimento sustentável, em junho, recicla
apenas 3% de seu lixo (252 toneladas das 8.403 geradas diariamente).
A Comlurb tem participação mínima nesse percentual
já diminuto: só separa 22,68 toneladas, ou 0,27%.
Os outros 2,73% ficam a cargo de catadores autônomos ou de
cooperativas. Com isso, o Rio que há 20 anos foi anfitrião
do maior encontro sobre meio ambiente da História
joga fora uma oportunidade de se equiparar a metrópoles como
Berlim (Alemanha) e Tóquio (Japão), famosas por não
desperdiçarem seus recursos naturais. Capitais europeias
recuperam, em média, 40% de seus resíduos. Na série
de reportagens Desleixo insustentável, que se
inicia neste domingo, O GLOBO mostra por que os cariocas ainda não
têm seu lixo reciclado.
Os motivos são muitos, a começar
pela incipiente coleta seletiva. Desde a sua implantação,
em 2002, o serviço não deslancha. Poucos cariocas
têm o privilégio de receber um caminhão de reciclagem
da Comlurb em suas portas. Dos 160 bairros da cidade, apenas 41
são atendidos semanalmente, e, mesmo assim, de forma parcial
por falta de investimentos, a coleta só ocorre em
algumas ruas. Hoje, ela apresenta um desequilíbrio entre
as áreas do Rio. Está mais presente nas zonas Sul
(40%) e Oeste (42%) e bem menos na Norte (18%). Segundo a Comlurb,
não existe coleta seletiva em favelas, o que exclui da conta
um contingente de cerca de um milhão de pessoas.
A Comlurb nunca promoveu uma campanha
para que a população faça a separação
de seu lixo diz Sérgio Besserman, presidente da Câmara
Técnica de Desenvolvimento Sustentável do município.
Parceria de R$ 50 milhões
A maior esperança da prefeitura, por
enquanto, está relacionada a um projeto que parece incapaz
de resolver o problema. Assinado no ano passado, um acordo entre
o município e o BNDES prevê a aplicação
de R$ 50 milhões para a construção de seis
galpões de triagem de materiais recicláveis. Em contrapartida,
a prefeitura promete colocar mais 15 caminhões em circulação,
expandindo o serviço dos atuais 41 para 120 bairros. Todos
esses esforços, se bem-sucedidos, devem ampliar a coleta
seletiva em apenas 2%, elevando para 5% o percentual de reciclagem
na capital.
Para a presidente da Comlurb, Angela Fonti,
a prefeitura precisa atacar as causas que levam aos baixos índices
de reciclagem. Ela dá razão a Besserman, admitindo
que a Comlurb nunca fez uma campanha de incentivo à coleta
seletiva de lixo.
A primeira causa é a própria
falta de uma campanha maciça em prol da reciclagem, algo
que faremos com recursos do BNDES. A nossa coleta precisa ser bem
mais abrangente também. A maioria das pessoas quer reciclar
seu lixo, mas nossos caminhões não passam em boa parte
das ruas. E precisamos tornar o mercado legal. Às vezes,
moradores de um prédio separam seu lixo e, quando o nosso
caminhão passa para pegá-lo, o lixo reciclável
já foi roubado. Os atravessadores ilegais precisam ser eliminados
diz Angela. E há uma corresponsabilidade nessa
história. As empresas, por exemplo, como determina a Política
Nacional de Resíduos Sólidos, precisam se engajar
nesse processo.
Envolvimento este que, na avaliação
de Angela Fonti, pode ser reforçado por medidas mais simples:
Nosso cronograma inclui pegar o lixo
orgânico e reciclável dentro das casas e dos prédios.
Os galpões vão melhorar as condições
de trabalho e dar um fim aos atravessadores, que diminuem o ganho
dos catadores.
Hoje, o reaproveitamento do lixo acaba dependendo
fundamentalmente da figura do catador. Muitos trabalham em condições
precárias, inclusive na Comlurb repórteres
do GLOBO flagraram trabalhadores sem luvas dentro da usina do Caju.
Situações como essa levaram o
governo federal a cobrar uma ação concreta dos municípios,
exigindo que apresentem, até agosto, uma proposta de adequação
à lei 12.305, que instituiu a Política Nacional de
Resíduos Sólidos, aprovada em agosto de 2010. A cidade
que não se enquadrar deixará de receber investimentos
da União.
À semelhança de São
Paulo e Brasília, o Rio precisa dar uma resposta à
questão da reciclagem, porque ela terá um grande poder
multiplicador no país. No caso do Rio, essa necessidade aumenta
por causa dos grandes eventos que vêm por aí: a Rio+20,
a Copa do Mundo e as Olimpíadas. A prefeitura tem até
agosto para estabelecer metas concretas de reciclagem afirma
Nabil Bonduki, secretário de Recursos Hídricos e Ambiente
Urbano do Ministério do Meio Ambiente.
O prefeito Eduardo Paes concorda que o Rio tem
de dar o exemplo, mas admite que o caminho é longo:
Tivemos que sair do abaixo de zero na
questão dos resíduos. Antes, tínhamos um aterro
(de Gramacho) que poluía a Baía de Guanabara. Inauguramos
o de Seropédica e implementamos outras ações
importantes, como o decreto que exige reaproveitamento dos resíduos
de todas as obras. Só agora poderemos começar a cobrar
uma postura mais participativa dos cidadãos.
O envolvimento da população europeia
com o tema inspirou a nova legislação nacional de
resíduos. A lei determina que os municípios brasileiros
joguem em aterros somente o lixo orgânico, ou seja, não
reciclável. A meta deve ser atingida até 2014. O engenheiro
químico José Carlos Pinto, professor da Coppe/UFRJ,
diz que a lei 12.305 traz avanços em termos de conscientização.
Mas defende que é preciso ir além:
O Rio, por exemplo, é um dos grandes
produtores de plástico do país. Mas as empresas daqui,
ao contrário do que ocorre na Europa, não se responsabilizam
pelo destino final desse material.
Para ele, sem um compromisso das empresas, é
impossível fazer uma reciclagem à altura dos atuais
desafios de sustentabilidade.
Hoje, esse mercado existe por iniciativas
individuais, em que o serviço do catador é feito longe
das condições ideais. Mercado cuja base é sustentada
por uma relação de trabalho ligada à exploração
diz José Carlos. Em países como Japão,
Canadá e Alemanha, existe a figura do catador, mas a logística
da coleta é tão melhor, que o catador, com boas condições
de trabalho, tem um peso muito menor na cadeia. Sem as grandes empresas
envolvidas nesse processo, não há como implementar
um sistema eficiente.
O caminhão desapareceu
A falta de eficiência, na avaliação
do chefe da Diretoria Técnica e Industrial da Comlurb, José
Henrique Penido, é explicada pela ausência de investimentos
maciços dos três níveis de governo.
Em 1994, chegamos a ter 20 cooperativas
de catadores nos bairros. Não restou nenhuma. Reciclagem
só dá algum dinheiro para catador de rua. E ferro-velho
só sobrevive porque tem gato de água e de luz. O preço
do produto reciclado acaba saindo mais caro do que a matéria
prima virgem. Sem pesados subsídios do governo, o sistema
não vai funcionar afirma Penido. Não
há mágica. A Alemanha gasta cinco bilhões de
euros por ano para implementar um sistema eficiente. O povo alemão
está muito satisfeito. E quanto ao Brasil? O país
está disposto a investir?
A advogada Leonor Amaral não percebe
esta disposição por parte do poder público.
Ela lembra que a Comlurb chegou a fazer um excelente serviço
de coleta seletiva em sua rua, na Praça Seca, em Jacarepaguá:
Há quatro anos, o caminhão
chegava à nossa rua, e os vizinhos, ao verem esse serviço,
também se animaram. Começou a faltar e passou a vir
só de vez em quando, até desaparecer por completo
em dezembro do ano passado. Liguei para a Comlurb, e me informaram
que estavam à espera de recursos para reimplantar o serviço
em algumas ruas e expandi-lo. Mas o próprio funcionário
da ouvidoria me disse que a coleta seletiva é o patinho feio.
RJ:
Coleta Seletiva Solidária amplia e chega a 45 municípios
A valorização e inclusão
social dos catadores de materiais recicláveis e a melhoria
da gestão dos resíduos sólidos dos municípios
do Estado do Rio de Janeiro são os principais objetivos do
projeto Coleta Seletiva Solidária implantado pela Secretaria
Estadual do Ambiente SEA e pelo Instituto Estadual do Ambiente
INEA.
Segundo pesquisa realizada anualmente pela Associação
Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais ABRELPE, o Rio é um dos estados brasileiros
que mais produzem lixo.
Se joga fora, por dia, uma média 1,861 Kg de detritos.
Diante deste cenário, foi elaborado, em 2008, pela SEA/INEA,
o Programa Lixão Zero, dentro do Pacto pelo Saneamento, cujo
principal objetivo erradicar os lixões do Estado do Rio de
Janeiro e, com a coleta seletiva, diminuir o volume de lixo a ser
aterrado, aumentando a vida útil dos aterros.
O Programa Coleta Seletiva Solidária já assessora
45 municípios nas seus esforços de implantação
da Coleta Seletiva solidária municipal, e desses 13 municípios
já implantaram seus programas municipais de coleta seletiva
solidária, com a inclusão dos catadores históricos
de materiais recicláveis.
O programa é desenvolvido através de oficinas de capacitação
e planejamento participativo da Coleta Seletiva Solidária
em quatro linhas de ação: gestores públicos
municipais, escolas estaduais, órgãos públicos
estaduais e catadores.
Nos municípios, as oficinas acontecem uma vez por mês
por cinco meses para que a implantação da coleta seletiva
solidária seja planejada de modo participativo onde todos
os atores envolvidos possam discutir e contribuir para a construção
de um programa municipal de coleta seletiva, inclusivo e duradouro.
A próxima capacitação acontece no Município
de Miguel Pereira, dia 05/03/2012.
O Instituto vem desenvolvendo políticas de valorização
do trabalho dos catadores através de cursos de capacitação
e apoio a estruturação dos grupos em cooperativas
ou associações.
Segundo a presidente do INEA, Marilene Ramos, desde novembro de
2008, o Instituto vem buscando capacitar os catadores de forma a
gerar uma melhoria da viabilidade econômica de seus empreendimentos.
Acontece no dia 22/03/2012 em Angra dos Reis, a próxima capacitação
para os catadores, na cooperativa Jabirangra.
Nas oficinas são abordados os seguintes temas:
mapeamento de riscos dos locais de trabalho de organizações
de classificação de materiais,
logística noções para elaboração
de projeto de arranjo-físico do processo de reclassificação
de materiais recicláveis,
educação previdenciária,
capacitação para cuidados aplicados à creche
e cuidados iniciais em situações de urgência
CISU.
Em
casa, basta separar o lixo entre recicláveis e não
recicláveis
Papéis sujos, guardanapos usados são
considerados rejeito e, portanto, não recicláveis.
Veja outras dicas de como ajudar a coleta seletiva
O ciclo da reciclagem pode e deve começar
em casa. Não demanda tanto esforço e não é
necessário ter lixeiras de cores diferentes, para cada tipo
de material. De acordo com a gerente de Educação Ambiental
da GEAM do Instituto do Meio Ambiente (INEA), Pólita Gonçalves,
basta fazer a separação para a coleta seletiva simples:
separar os recicláveis dos não recicláveis.
Nesse caminho, algumas dúvidas podem surgir, por exemplo,
onde jogamos guardanapos de papel sujos? E o copo de plástico
sujo de cafezinho?)
Segundo a gerente, duas lixeiras são
suficientes, pois quando o lixo chegar às cooperativas e
usinas de reciclagem uma nova triagem será feita. No lixo
orgânico, ou úmido, devemos depositar os restos de
alimentos, cascas, ossos, pó de café e chá.
De acordo com Pólita, uma alternativa para o lixo orgânico
é a criação de composteiras, em casa, para
transformar os resíduos orgânicos como cascas de legumes
e frutas em composto.
Já no local de lixo seco depositamos
todos os materiais possíveis de serem reciclados, como latas,
plástico, vidro e papel. Nesse processo é importante
que embalagens sujas de alimentos, como um pote de margarina ou
caixa de leite, sejam enxaguados antes de irem para a lixeira.
Embalagens de caixas de leite, de suco (Tetra
Pak) também são recicláveis. Basta abri-las,
lavá-las, acondiciona-las na lixeira de recicláveis
e encaminha-las para a coleta seletiva, diz Pólita.
Segundo a especialista, papeis sujos de comida são considerados
rejeitos e, portanto, não são recicláveis,
devem ser depositados para os aterros sanitários.
De acordo com Pólita, é importante
verificar se no município existe um programa municipal de
coleta seletiva, e descobrir o dia que o caminhão passa para
buscar os recicláveis. A dica da gerente é levar o
material separado às cooperativas e organizações
de catadores do bairro. Algumas iniciativas como o site Rota
da Reciclagem apontam 3.400 postos de coleta, usinas e cooperativas,
quel recebem materiais recicláveis em todo Brasil.
Já o óleo de cozinha deve ser
separado e não deve ser despejado na pia, ele polui e degrada
o meio ambiente. O ideal é que ele seja armazenado em uma
garrafa , como a pet, bem vedada, e então entregue em algum
posto de coleta. Pólita afirma que a separação
de recicláveis é importante para que os demais resíduos
voltem para seu ciclo produtivo. É fundamental que
eles sejam encaminhados para a reciclagem ou reutilização,
ressalta.
http://redeglobo.globo.com/globoecologia/noticia/2011/12/em-casa-basta-separar-o-lixo-entre-reciclaveis-e-nao-reciclaveis.html
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